O combinado não sai caro
- Ivan Mouta
- 31 de mar. de 2017
- 3 min de leitura

Dentre as características marcantes que nós brasileiros possuímos, uma se destaca de forma preeminente, a nossa capacidade de não cumprir com nossos compromissos. Isso está presente em nossas relações o tempo todo, quer sejam pessoais, quer sejam profissionais. Pode ser até um compromisso por escrito, com testemunhas, registrado em cartório, seja lá como for, daremos uma bela justificativa e não respeitaremos o que foi previamente combinado.
No mundo dos negócios isto é muito comum, onde contratos são desrespeitados frequentemente, como se simplesmente não existissem. Isso faz com que qualquer empreendedor pense muito antes de fazer algum investimento que envolva comprometimento com pessoas ou empresas. A possibilidade do negócio dar errado e se perder muito dinheiro, em razão de alguma parte envolvida não cumprir com sua obrigação, é enorme. Esta é uma grande barreira que afasta muitos investidores, principalmente os estrangeiros, mais acostumados, em seus países, ao cumprimento dos acordos.
Fazemos isto o tempo todo, quando queremos muito alguma coisa aceitamos tudo que nos é imposto ou condicionado, mas depois já falamos que não foi bem assim, que aconteceu um fator inesperado e não poderemos fazer da forma acordada. Se não tiver sido formalizado então, já era, fica o dito pelo não dito e lá vamos nós jogando mais um contrato ou um compromisso assumido no lixo. Nunca reconhecemos que podemos ter cometido algum erro ou feito alguma avaliação precipitada, a culpa é sempre da outra parte e isso, por si só, já justifica nossa atitude de não respeitar o que foi pactuado.
Quando estamos desempregados ou procurando uma melhor colocação profissional e participamos de algum processo seletivo, somos incisivos ao aceitar o que nos é descrito para o cargo, prometemos o máximo de empenho, nos comprometemos a fazer além do que está sendo pedido pelo empregador, mas, passados alguns poucos meses, já começamos a reclamar, nos sentir injustiçados, desprestigiados, ganhando menos do que outros funcionários e passamos a falar mal da empresa e das pessoas que lá trabalham. Isto, além de gerar muito desgaste dentro das companhias, faz com que as empresas pensem muito antes de abrir uma nova vaga ou preencher uma já existente. Esta conduta, aliada à nossa onerosa folha de pagamento, faz com que as organizações, a cada dia, tentem operar com um número menor de pessoas.
É preciso que tenhamos mais responsabilidade antes de assumirmos qualquer compromisso, contratos não podem simplesmente não valer nada, precisam ser bem estudados antes de serem assinados e, uma vez formalizados, é imprescindível que sejam cumpridos em sua totalidade, até mesmo em momentos em que ocorram fatos inesperados no meio do caminho.
O outro lado desta moeda também é importante que se diga, muitas pessoas e empresas prometem muita coisa e na hora de entregar ficam devendo. O respeito deve ser sempre de todas as partes envolvidas. Não é admitido iludir um cliente, escondendo características ou maquiando o produto para que ele pareça melhor ou diferente do que é. O jogo tem que ser limpo e tudo deve ser exposto da forma mais transparente possível. É evidente que ninguém deve continuar participando de algo que não goste, que esteja sendo ludibriado ou se conformar em receber qualquer coisa inferior ao que lhe foi prometido, mas temos que ir com calma, não somos tão inocentes a ponto de sermos engados em tudo que nos envolvemos, contratamos ou compramos. Hoje, antes de assumirmos qualquer compromisso, existem inúmeras fontes que podemos buscar para nos informar se devemos ou não assumir um acordo.
Devemos sempre buscas nossos direitos quando somos lesados ou enganados, mas não é admissível ficar criando situações falsas, apenas para se obter vantagens indevidas. Muito da tão reclamada morosidade do nosso sistema judiciário deve-se aos muitos processos descabíveis, inescrupulosos, que visam apenas levar proveito sobre alguém.
Todos sairão ganhando à medida que passemos a agir com mais responsabilidade e, principalmente, com mais honestidade. Precisamos evoluir nesta questão e, uma vez combinado, nunca sai caro cumprir.
Ivan Mouta
http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=247546
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