A busca sem fim
- Ivan Mouta
- 23 de jun. de 2018
- 3 min de leitura

A nossa frenética busca por mais e mais, nos conduz numa missão inalcançável, já que nunca estamos saciados, valorizamos pouco nossas conquistas e logo nos frustramos, passando a desejar outras coisas e recomeçamos nossa jornada, numa procura sem fim por algo que nos deixe plenamente realizados. Isso torna nossa vida, muitas vezes, sem sentido, já que vivemos desiludidos, com uma sensação de vazio, de que sempre algo está faltando, que não temos o suficiente para ficarmos satisfeitos.
Uma música, do inesquecível Raul Seixas, chamada “Ouro de Tolo”, num dos seus trechos mostra essa nossa desilusão e contínua busca pela felicidade, sem valorizarmos o que já conquistamos: “Eu devia estar contente por ter conseguido tudo o que eu quis, mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado. Porque foi tão fácil conseguir e agora eu me pergunto e daí? Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar e eu não posso ficar aí parado”.
A sociedade, a mídia e as redes sociais, nos impõem desejos e ambições, que nos colocam continuamente numa empreitada infindável e, por muitas vezes, irracional. O carioca Millôr Fernandes já dizia “o importante é ter sem que o ter te tenha”. Precisamos aproveitar mais o dia (carpe diem), usufruir de nossas conquistas, que por muitas vezes foram árduas e deixar de nos preocupar tanto com o amanhã. Não que tenhamos que ser imprudentes ou irresponsáveis, claro que não, mas viver sempre em função do que virá ou do que pode ou não acontecer, nos impossibilita de desfrutar de tanta coisa especial que cerca o nosso dia a dia, como a convivência com as pessoas que amamos, como nos ocuparmos com momentos de lazer e até de descanso. Isso não nos impede de sermos competitivos, criativos e, principalmente, produtivos, pois sempre há espaço para dispor dos triunfos alcançados.
A forma como nossos filhos veem tudo isso é um capitulo à parte, independente da realidade financeira de cada um, nossos filhos estão sendo criados num mundo extremamente consumista e muitas vezes deixando de lado valores tão importantes em suas formações. Sem entrar nessa história de que “no meu tempo era melhor”, – até porque acho que não era – mas de fato nossos filhos não dão muito valor para as coisas que têm e, tal como nós, sempre estão querendo coisas novas. É preciso trabalhar isso melhor em nós, para que tenhamos condições de passar isto a eles, ensinando pelo exemplo, passando para eles o quanto cada conquista é suada e o quanto é importante aproveitá-la ao máximo. Nossas ações, por mais simples que sejam, irão moldá-los e formar seus caracteres. É necessário demonstrar, através de nossa conduta diária, a importância de se respeitar as outras pessoas e aceitar suas diferenças, convivendo bem com a sociedade e sendo gentil com todos.
Somos privilegiados por viver numa época com tanto desenvolvimento tecnológico, com diversas possibilidades de nos comunicarmos e nos inteirarmos instantaneamente dos fatos ocorridos em qualquer lugar do mundo, mas não podemos virar prisioneiros dessa tecnologia e, por exemplo, dispensar todo o nosso tempo ao celular, precisamos dar mais atenção uns aos outros e curtir a convivência com amigos e familiares. A tecnologia existe para nos servir e não o inverso. Muitas coisas mudaram bastante com o passar do tempo, mas receber e dar carinho a quem prezamos, ainda é imensamente importante e necessário.
A nossa jornada pela plena satisfação e contentamento pode até não ter fim, mas podemos e devemos aproveitar mais a viagem e não deixar passar os momentos bons que a vida nos proporciona com ocupações fúteis ou com ambições e apegos desenfreados.
Ivan Mouta
Comments