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A gratidão está morrendo



Esse sentimento, certamente, é um dos mais nobres e importantes, mas ele, a cada dia, morre um pouco dentro de cada um de nós e por mais que usemos emojis afirmando que o praticamos, isso não passa de uma tentativa ou apenas, como quase tudo que fazemos nas redes sociais, uma forma de vender uma imagem positiva de nós mesmos, mas que não reflete nossas ações no dia a dia, onde essa emoção perde cada vez mais sua importância e, raramente, fazemos uso dela.

Vivemos tempos onde o extraordinário que fazemos se transforma, instantaneamente, em obrigação. Isso é mais evidente na nova geração, que pouco se empolga com os “presentes” que ganham, já que são agraciados a todo momento, mas essa postura tem nos dominado também, pessoas de outras gerações, onde podemos até fazer uma “festinha” quando recebemos algo, mas logo esquecemos e não fica em nós nenhum entusiasmo, nenhuma sensação de reconhecimento.

É perfeitamente plausível viver sem essa emoção, ninguém vai ficar doente, nem tão pouco morrer por não demonstrar ou não receber gratidão, mas isso torna nossa vida mais insossa, menos justa e mais fria. Como passar a importância disso para nossos filhos, para as novas gerações, se não temos, não exercemos tal sentimento? O que ganhamos hoje, já não conta amanhã, agimos como se tudo que nos é dado ou é por pura obrigação ou, simplesmente, foi feito porque quiseram fazer, portanto, não temos e nem devemos demonstrar qualquer agradecimento. Se alguém nos desagradar então... não nos vêm a menor recordação de tudo que esta pessoa pode ter feito de bom em nossas vidas. Zero! Vamos mostrar toda nossa indignação e descontentamento, como se fosse alguém que nem conhecemos direito.

Um grande risco que corremos, quando deixamos a gratidão de lado, é começar a não dar importância para o que nós mesmos fazemos, por falta de reconhecimento e de valorização ao que realizamos. Antes de esperarmos receber o devido enaltecimento aos nossos esforços é preciso que reconheçamos nós mesmos o que desempenhamos de bom, pois além da satisfação que isso nos dará, seremos movidos a alcançar feitos ainda maiores. Do contrário, nos tornaremos pessoas medíocres, comuns naquilo que fazemos e se formos líderes de equipes e não enaltecermos os feitos de nosso time, na melhor das hipóteses eles nos deixarão, na pior e mais comum, ficarão e realizarão o trabalho de qualquer jeito, sem inspiração, sem envolvimento e sem dedicação.

Enquanto a gratidão se vai, o nosso senso crítico se fortalece de forma descomunal. Tudo nos desagrada, no melhor que recebemos, sempre focamos em algo que esteja, por mínimo que seja, fora do lugar. Nossas críticas são duras e implacáveis. Tudo que é bem feito não passa de obrigação, qualquer errinho, por menor e mais justificável que seja, será por nós rudemente reprovado e faremos questão absoluta de externar, do alto da nossa arrogância e superioridade, toda a nossa indignação.

O melhor dos mundos seria se praticássemos e recebêssemos a gratidão pelos feitos e esforços aplicados, mas não se pode contar com isso e nada indica que esse sentimento irá ressurgir da forma desejada, pois ele está agonizando, respirando por aparelhos, mas talvez tenha salvação, basta cada um de nós começar a praticá-lo, lentamente que seja, sentindo seus benéficos efeitos e, quem sabe, a pessoa agraciada não possa praticá-lo também, fazendo disso um bom hábito, um exercício rotineiro, uma virtude em sua vida.

Ivan Mouta

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